sábado, 27 de setembro de 2008

Ofender o Eterno ou o semelhante, qual é a diferença?

Não faz muito tempo, um rabino me contou a seguinte historia:

A Bíblia nos conta tres historias que já vimos algumas centenas de vezes na TV, ou no Cinema.

1ª Historia:

Numa delas, o rei Nimrod (um maluco completamente desvairado) uniu a todas as pessoas da sua época e lhes apresentou o seu plano mestre: "Vamos invadir os céus, e fazer guerra contra o Eterno!".

Claro que havia um pequeno problema técnico... Como chegar aos céus???

Então, Nimrod criou a '1ª olaria' da historia e produziu milhões, talvez bilhões de tijolos!

Então, como formigas, os homens trabalharam "unidos", sem parar, levantando uma torre que chegava aos céus. Estou me referindo à famosa "Torre de Babel", ou "Torre do Portal de EL" (EL é um dos nomes do Eterno).

No meio da "empreitada", o Eterno deu uma olhada mais detalhada no "canteiro de obras", e disse: "Opa! Eles querem vir aqui e lutar comigo? He, he, he... Muito engraçado!"

A TORÁ nos conta que o Eterno "desceu dos altos céus" para ver como os homens construiam a cidade e a torre, unidos como "um só povo, com uma só lingua".

Quando lemos este relato, parece que o Criador admira a determinação, a ousadia e até insolencia dos homens. Mas não é isto. O que Ele admira, é que estão todos "unidos", mesmo que seja contra ELE...

Por que o Eterno não os destruiu com "fogo e enxofre", como seria de esperar. Afinal, qual seria o castigo de um homem que acreditava ser o deus Sol em pessoa, e ainda tentou cozinhar vivo a Avraham, o patriarca, em um forno, porque Avraham não quiz adorá-lo como deus? (Me refiro a Nimrod).

Com um simples "estalo de dedos" o Eterno acaba com a maior rebelião da historia, e detalhe: Não matou ninguem. Ele apenas os confunde, muda as suas linguas, de forma que eles não podiam mais se comunicar, e os mandou de volta para casa para cursar um Wizard ou CCAA para que se entendessem.

O resumo desta 1ª historia é que o Eterno não levou muito a sério a insolencia de Nimrod, e perduou a vida de todos. Por que? Porque o pecado era contra ELE.

2ª Historia:

A segunda historia, é a "historia do diluvio". Acho que você já a conhece...

"... E o Eterno viu que era grande a maldade do homem na terra, e que todo impulso dos seus pensamentos do seu coração era todo dia exclusivamente mau" (Genesis 6:5)

O que isto quer dizer? Que o homem não estava desta vez pecando contra o seu Criador, mas contra o seu semelhante.

A TORÁ nos conta que os "filhos dos senhores", viam as mulheres (qualquer uma), e se as desejavam, as tomavam para si, sem se importar se eram ou não comprometidas, se eram ou não crianças.

Justamente os "filhos dos senhores", os filhos dos principes, dos juizes, dos governadores... Em soma, os filhos dos que deveriam "zelar" pela justiça, eram justamente esses os mais corruptos. Como nos nossos dias...

Apenas a satisfação do ego, do lucro, da exploração do mais indefeso. A unica lingua que os "filhos dos senhores" entendiam era a da "injustiça".

A Bíblia nos conta que a maldade do homem "pesou no Seu coração" e Ele decretou a eliminação de todo ser vivo. O genero humano, completamente corrupto, "tropeçou" com a Justiça do Eterno.

Mas o Eterno passou um "pente fino" em todo o genero humano, e acho uma pessoa em particular, Noach (Noé). Noach (e sua familia) foram os primeiros a experimentar a sua "chessed" (graça).

Mas qual era o mérito de Noach? Um grande religioso? Um assiduo frequentador de cultos? Nada disso! Noach era uma pessoa "normal", com "virtudes" e "vicios" - Por falar em vicios, a "manguaça" era um dos seus preferidos. Mas sua virtude era que Noach era um "tzadik", um justo, talvez o unico "... em sua geração".

Isso não significa que Noach era o maior "justo" da historia da humanidade, mas significa que "na sua geração", Noach era um justo. E ser justo, na lingua do Eterno, significa "praticar a justiça". Exatamente o contrario do que praticavam os "filhos dos senhores".

O resumo desta historia é que o pecado do "homem para com o homem", foi considerado muito pior, e imperdoável, do que o pecado do "homem para com o seu Criador.

3ª Historia:

No vale de Sidim, hoje: Jordania, se erguiam 5 cidades muito prosperas: "Sodoma", "Gomorra", "Admá", "Zebolim" e "Bela".

A TORÁ nos conta que a beleza e a prosperidade das cidades era tão grande, que o vale parecia com o "Jardim do Éden" e o profeta Ezequiel nos conta que nas cidades "abundava a prosperidade".

Mas as cidades temendo que "estranhos" viessem usufruir dos seus tesouros, impusseram pessadas leis de imigração. Nenhum estranho seria "bem vindo".

Pois bem, dentro destas cidades havia uma dura lei que dizia que "nenhum estranho deveria ser ajudado pelos naturais da cidade, sob pena de morte na fogueira".

As pessoas levavam a sério estas leis, pois bons cidadãos, são sempre, cumpridores da lei, quando a lei está alinhada com os seus "interesses".

Quando um estrangeiro aparecia na cidade buscando novas oportunidade para si, e para os seus, este era "estuprado em praça publica". E não era porque havia só "homos" na cidade, como muitos pensam, o objetivo era "humilhar", ao extremo, o estranho.

Nos conta o Talmud que Plotit, uma das filhas de Lot, que morava do lado "de fora" de Sodoma, ao ver um imigrante passando fome, o alimentou diversas vezes. Mas os principes da cidade perceberam que o "estranho" não estava definhando, como seria de esperar. Isso só podia significar uma coisa: Alguem está alimentando o estranho. Mas quem?

Certo dia, os juizes da cidade ficaram para "espiar", e descobriram que Plotit, a filha de Lot, era a responsável pela "não morte" do "imigrante".

Depois de um "barraco", que chamou a atenção de toda a cidade, a pobre moça foi despida, amarrada nos muros da cidade, e teve o seu corpo lambuçado com mel. E assim foi deixada para morrer, picada por abelhas.

O profeta Ezequiel nos conta que as cidades foram destruidas porque eram muito prosperas, mas "não cuidavam da viuva, do ófão e do estrangeiro".

D'us não tolera o pecado do homem para com o homem.

Agora dá para entender do por que em "Yom Kippur" é tão importante buscar o perdão do semelhante?

Boris