quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Quem é o criador de Shrek?

(fonte: chabad)

Faz uns 4 anos, fui surpreendido com uma matéria do site “chabad”, o qual assino há bastante tempo.

Esta matéria me chamou a atenção, pois eu sou fã de carteirinha da série “Shrek”. Alias, quem não é?

Quando assisti o 1º Shrek, em 2001, reconheci vários ensinamentos “judaicos”. Estes eram muito claros para mim, pois foi nesse ano, em que trabalhava em São Paulo, que iniciei meus estudos de Torá.

Lembro até hoje... Eram todas as 2ª feiras à noite, numa sala de escritório, no “Teatro Procópio Ferreira”, na rua Augusta Nº 2823. Depois do estudo, descíamos para uma confraternização (comida + bebida + muita conversa) que acontecia simultaneamente no “Back Stage Café”, o café do mesmo Teatro. Ali nos reuníamos com o “moré” (professor), o rabino, e um monte de pessoas que estavam buscando conhecer o judaísmo, como eu.

Quando comentei com meus amigos, e alunos de seminário, sobre a “mensagem judaica” do filme, não fui parabenizado pela minha descoberta, pelo contrário, me chamaram de “judaizante”.

Em 2004 foi lançado o 2º filme de Shrek. Agora não tinha dúvidas. O filme estava “empesteado” de ensinos judaicos. Dava para ver de longe. Só não via quem nunca tinha estudado Torá.

Comentei com meus amigos, e com a congregação à qual pertencia, mas salvo uma ou duas pessoas, o resto foi a habitual censura. Por isso guardei esta historia... até hoje.

A história de David N. Weiss, o criador de Shrek, em algum ponto se cruza com a minha, e por isso me é tão significativa. Claro que a historia dele é 100 vezes melhor!

Esta historia esteve disponível na web no site do “chabad” até um tempo atrás. Mas este último ano foi retirada do ar. Por isso, tive certo trabalho para re-compilá-la. (Tenha em mente que esta materia foi ao ar em 2004/2005).

Espero que lhes seja de algum proveito.

Boris.

- * -

A história pessoal do criador de Shrek.

O trabalho mais recente de David N. Weiss, um escritor indicado ao prêmio Emmy, é “Shrek 2”, o filme de maior sucesso atualmente nos Estados Unidos. O filme conta as peripécias de um Ogro esquisito que vive em um pântano (Shrek) e casa-se com uma linda princesa. Ao longo do filme, descobre o sentido mais profundo do casamento, de sua identidade e da dedicação ao próximo.

Weiss tem uma história pessoal fascinante: foi criado em uma família judia assimilada, tornou-se um pastor cristão e finalmente retornou ao judaísmo. Atualmente David Weiss tem 44 anos, é casado e tem dois filhos.

Chabad: Shrek 2 é um grande sucesso – quebrou o recorde de bilheteria de Jurassic Park e em breve será o desenho animado com a maior bilheteria de todos os tempos. Você já esperava isso?

Weiss: Eu sempre soube que o filme começaria por cima, baseado no sucesso do primeiro filme. Mas você deve lembrar-se que terminei de escrever Shrek 2 há dois anos, e neste estágio do processo você ainda não tem uma visão geral do que vai sair daí. Em animação, os desenhistas são muito importantes. No estúdio, você vê esses animadores interpretando algumas cenas, fazendo caras engraçadas diante do espelho, e isso é o que há de mágico no script. Nós esperávamos que tudo isso desse certo, mas nunca podemos ter certeza até ver a reação do público.

Chabad: As crianças adoram Shrek 2, mas no desenho há mensagens mais profundas, direcionadas aos pais. Você inclui algum tema especificamente judaico?

Weiss: Na verdade, um dos temas principais do filme é baseado em algo que eu ouvi do rabino Shlomo Goldberg (que por sua vez ouviu do rabino Noach Orlowek). É a definição de amor: “O que é importante para você é importante para mim.”. No filme, após casar com a princesa Fionna, Shrek presume que eles viverão no pântano. Porém, o pai de Fionna começa a tramar para um plano para trazer sua filha de volta ao palácio. O rei age sobre a auto-estima de Shrek, fazendo-o sentir que ele arruinou a vida da pobre menina. E há muitos argumentos que fazem Shrek, e até mesmo o público, acreditar que talvez isso seja verdade. No início, Shrek é bem egoísta em relação a isso, e quer que Fionna fique com ele no pântano. Mas depois ele tem outras idéias: “Talvez Fionna seria mais feliz como uma princesa, em vez da Ogra na qual eu a transformei”. E é porque Shrek ama muito Fionna que ele decide dar a ela a porção mágica “e viveram felizes para sempre” , deixando-a retornar para a vida no palácio. Isso não porque é o melhor para ele, Shrek, mas porque ele deseja isso para o bem de sua amada.
No encontro com os executivos da Dreamworks (muitos dos quais são judeus), às vezes eu mencionava que isso era um pensamento judaico tradicional. É realmente o tema básico do filme, e estou orgulhoso de ter levado as coisas nesta direção. Assim, através de Shrek, um pouco da sabedoria judaica está sendo revelada a milhões de pessoas.

Chabad: Como foi sua criação, qual era a sua ligação com judaísmo ?

Weiss: Fui criado no reformismo, e judaísmo para mim significava basicamente as pinturas de Chagall, o Holocausto e plantar árvores em Israel. Mas eu era mais interessado em espiritualidade. Eu ouvira a história de Avraham, que entendeu ainda jovem que deveria haver algo maior que ídolos, maior que o sol, a lua e as estrelas. Essa história realmente me impressionou. Eu me lembro que quando tinha 6 anos eu acordava no meio da noite pensando no que acontecia quando você morria, se não havia algo mais na vida e no universo. A idéia de que a vida acabava quando se morria era muito assustadora para mim.

Chabad: Então você se interessou mais pelo judaísmo?

Weiss: Não, porque eu achava que acreditar em D’us e no céu eram idéias cristãs, era algo como “nós não acreditamos no que eles (os cristãos) acreditam”. Mas eu estava determinado a buscar D’us.

Chabad: E como você se satisfez?

Weiss: No meu colégio em Ventura (Califórnia), dos 2800 alunos, somente 7 eram judeus. Todos os meus amigos iam para a Igreja. Certa vez tive uma conversa noite adentro com um pastor, que me convenceu por argumentos lógicos a acreditar em D’us. Isso fez com que eu quisesse me tornar cristão. Eu teria me tornado um judeu observante se naquela ocasião um judeu tivesse me convencido sobre D’us.

Chabad: Isso é um salto muito grande: do “bar-mitzva” para a “comunhão”.

Weiss: Na verdade, Jesus era a pedra no meu sapato que veio com o pacote. Eu não gostava do nome “Jesus” e eu não consegui pronunciá-lo por talvez um ano. Havia partes do cristianismo que não funcionavam bem para mim, e eu as ignorava. Mas eu estava em uma busca desenfreada por D’us e esse era o único caminho que me fora oferecido. Então nos próximos 17 anos eu trabalhei como pastor para a juventude, produzindo filmes e peças para jovens.

Chabad: Mas então alguma coisa fez você mudar de idéia.

Weiss: Em 1989 eu estava rodando um filme na Irlanda e em minhas horas vagas, trabalhava como pastor na igreja presbiteriana local. Havia um jovem judeu ortodoxo trabalhando no estúdio de filmagem chamado David Steinberg (atualmente ele é produtor na Disney e autor de livros infantis). Essa foi a primeira vez na vida que eu encontrei um judeu observante. Ele era bem moderno e muito simpático e todos no estúdio adoravam ele.
Durante quase um ano, nós evitamos um ao outro. Só que eu comecei a ensinar ao meu grupo da Igreja sobre as festas judaicas, mas eu não fazia a mais vaga idéia do que se tratava. Então eu pedi para o David se ele poderia dar algumas aulas. Ele concordou e ele era bom mesmo! A partir daí ele percebeu que eu não estava tentando convertê-lo, e nós começamos a nos falar. Me lembro que eu perguntei a ele , “ Eu tenho Jesus como meu sacrifício. Mas vocês não têm mais um Templo, e conseqüentemente sacrifícios. Como vocês fazem para se expiar?”
Ele respondeu a pergunta de uma maneira muito bonita, explicando que D’us fala: “Eu quero o sacrifício de seus lábios. Quero o serviço de seus corações.Prece. Essa é a melhor das oferendas para Mim”.
Eu percebi que os judeus eram fiéis a D’us havia centenas de anos, mesmo sem um Templo e sem sacrifícios. Isso me deixou atônito, porque não é isso que ensinam na Igreja. Eles ensinam que o sangue de alguém teve que ser derramado por nossos pecados. Sem sangue não haveria perdão.
Fiquei muito impressionado com essa conversa. Era irritante para mim saber que um grupo de pessoas ia tão bem sem Jesus. Especialmente porque os cristãos dizem que todo o mundo precisa dele.
Isso abalou minhas estruturas. A essa altura eu já farto do cristianismo, porque não me sentia em casa. Sentia como se fosse um estranho.
Comecei então a questionar minhas crenças. Pensava que talvez eu deveria ser mais como o David.

Chabad: E quando aconteceu a mudança?

Weiss: Em um fim-de-semana dirigi até o alto de um penhasco no noroeste da Irlanda. E ali estava eu, a 550 metros de altura, onde o vento soprava as águas do oceano Atlântico ao encontro da rocha.
Era selvagem e poderoso. Olhei para o mar, meditando em meu “momento de silêncio”, como um cristão devoto faz todas as manhãs. Eu observei aquela força espetacular e pensei: “Isso é claramente a Mão de D’us”, Os céus proclamam a Glória de D’us (salmo 19).
Fiquei muito aflito, porque não sabia para quem rezar. Pensei que se rezasse para Jesus, poderia estar ofendendo o único D’us verdadeiro. Mas se rezasse diretamente para D’us, estaria traindo aquela que fora minha religião nos últimos 15 anos.
Eu me senti exatamente como quando meus pais se divorciaram: uma tarde eu quis ver minha mãe, mas quando meu pai me perguntou aonde eu ia, disse que iria dar uma volta, pois não queria magoá-lo. Quando cheguei na casa de minha mãe, explodi em lágrimas, eu sentia como se tivesse traído meu pai. Era um sentimento muito ruim mesmo.
Foi assim que me senti naquela tarde, sem saber para quem rezar.

Chabad: E como foi o seu retorno?

Weiss: Eu conheci o crítico de filmes Michael Medved em um festival de cinema. Eu achava que ele era católico, pois já vira seu nome mencionado em revistas cristãs, mas ele usava Kipá! Ele me convidou para almoçar em sua casa no Shabat, e foi maravilhoso, a sinagoga, as famílias, as crianças. Nessa época encontrei minha esposa e começamos a freqüentar aulas de introdução ao judaísmo.
Mas eu continuava freqüentando a Igreja, achando que poderia incorporar judaísmo no meu cristianismo. Durante algum tempo eu ia para a sinagoga no sábado e à igreja no domingo.
Mas então percebi que teria abrir mão de algum do dois, e meu judaísmo estava cada vez mais significativo para mim. Além disso, já não estavam muito satisfeitos comigo na Igreja, pois eu questionava várias passagens da bíblia que me pareciam anti-semitas.
O fim da história é que fui à mikve e renunciei ao cristianismo. Minha esposa se converteu ao judaísmo, e hoje temos lindas crianças que freqüentam uma escola judaica, cumprimos Shabat e comemos kasher. E nós ainda temos muito a crescer!

Chabad: Qual seu próximo passo?

Weiss: Ir para Israel foi um grande passo para nós. Fomos para Sucot e eu estava com medo, mas foi maravilhoso. Fazer “aliá” me parece um passo muito grande no momento, mas sentimos que é o lugar ao qual pertencemos.

Chabad: Sendo um judeu observante, como seu estilo de vida se encaixa no estereótipo Hollywodiano?

Weiss: Ainda sou um cara de Hollywood, mas não no sentido de que eu estou sempre indo a festas. Na verdade há aqui um grupo de escritores que são judeus observantes. E é surpreendentemente fácil ser observante aqui. Quando fomos para a premier de Shreck 2 em Cannes havia alguns eventos no Shabat, mas quase nunca há problemas.

Chabad: Em termos de causar impacto no público, um filme como “Paixão de Cristo” foi bem sucedido. Você já pensou em fazer um filme judaico desse porte?

Weiss: Não acho que esse filme tenha mudado ninguém, só serviu para irritar alguns sobre aquilo que os cristãos já pregavam. Eles dizem que judeus e cristãos viram dois filmes completamente diferentes. Sei o que teria sentido se tivesse assistido ao filme 15 anos atrás: teria chorado, seria uma experiência religiosa. Hoje eu nem quero ver o filme. Não tenho mais estômago para duas horas de violência.

Chabad: Já tendo visto os dois lados, como você definiria a diferença entre judaísmo e cristianismo?

Weiss: Judaísmo tem a idéia de que colocamos as palavras de Torá sobre o coração, e não dentro dele, porque nosso coração é como uma pedra. Mas se você vai empilhando-as, um dia você se emociona com uma música, ou alguma coisa e então seu coração se abre e todas essas palavras caem para dentro dele.
Mas se você tem uma dessas experiências emocionantes e a Torá não está sobre o seu coração, então nada acontece. Você está extasiado, mas quando acaba você se esquece do que passou. Você precisa de ambos os componentes. E o verdadeiro poder do judaísmo é a Torá e suas “miztvot”, que constroem uma base concreta para segurar o sentimento.

Chabad: O que você acha que pode ser feito para conter o fenômeno da assimilação e alcançar as pessoas?

Weiss: Só posso falar daquilo que funcionou para mim: sentir-se abraçado, bem vindo, amado. Só que, por algum motivo, as pessoas simplesmente não estão interessadas. Elas não conversam com um rabino, elas não querem participar de um jantar de Shabat. Eu não sei o que você pode fazer sobre isso.
Eu acredito de uma maneira mística, que quando cumprimos mitzvot, quando estudamos Torá, quando mudamos e melhoramos, tudo isso causa um impacto no universo, um impacto que afeta a assimilação de alguma maneira. Mais diretamente, enquanto trilhamos nosso caminho, podemos para e bater um papo com nossos vizinhos. Por exemplo: eu tinha um vizinho há muitos anos, mas só trocávamos um “oi” de vez enquanto. Mas semana passada conversamos por quase meia hora, ele queria saber minha história, como cheguei onde estou. E agora ele quer vir jantar conosco no Shabat e trazer sua família.
Conectar-se é uma coisa muito pessoal. Ultimamente eu tenho acreditado que a maneira de atingir as massas é um por um, é criar uma conexão intensa com outra alma.
Não há uma poção mágica para cada um.

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